Mushishi: O mistério habita no silêncio
Mushishi é uma grande mistura de mistério, fantasia e religiosidade. Este último remete ao claro exercício do zen budismo e da cultura religiosa oriental: seja nas músicas, seja nas entrelinhas das histórias. E banhado por um mistério incomum, uma paleta de cores pouco usual os curtos diálogos, Mushishi vem ganhando espaço no coração de diversos grupos.


Informações: Originalmente, é uma mangá criado e ilustrado por Yuki Urushibara, em 1999. O estúdio Artland ficou responsável pela animação, Hiroshi Nagahama pela direção e Kazuya Tanaka pela direção de som. A primeira temporada finalizou com 24 episódios, de Outubro de 2005 à Junho de 2006.
Sinopse: Nosso protagonista se chama Ginko: um silencioso homem das montanhas (literalmente). Ginko ganha a vida como mochileiro errante, e seus conhecimentos espirituais o ajuda a curar doenças e resolver mistérios que envolvem os famosos “mushis”. Deste modo, ele se transforma em um tipo de exorcista, capaz de enxergar e remover os mushis do corpo e ambiente humano.
Literalmente mushi significaria “inseto”, mas em Mushishi ele ganha um significado mais amplo. É uma força enérgica e invisível que coexiste com a espécie humana, animal, mineral e vegetal. Diferente de todos estes, os mushis não podem ser vistos por seres humanos comuns. Para vê-lo é necessário alcançar uma visão transcendental elevada, ou ter tido uma experiência com estes seres antes, como nosso protagonista.






Como diria a filosofia budista, toda criatura faz parte de um todo, como um grande círculo, onde nenhuma coisa é mais importante que outra. Sendo assim, mushis também são importantes, e Ginko os vê como um elemento vivo, com direito a seu próprio espaço. Assim, ele não apenas os valoriza mas também zela para que essas criaturas vivam em paz, indo contra a ideia popular de que mushis são seres malignos e destrutivos.
Mas infelizmente a coexistência entre humanos e mushis vem sido um desafio. Por serem espirituais, mushis conseguem suprir a energia humana e até se apoderarem se seus corpos ou órgãos, causando-lhe enfermidades ou síndromes psicológicas. E é neste aspecto que surgem os “mushishis” — uma espécie de médico naturalista, conhecedores de porções mágicas, que espantam os mushis do corpo humano sem ser necessário ferir ambas as partes.
Ginko sempre explica que mushis são seres vivos que vivem sua vida como podem, e assim como um ser humano caminha pela grama e pisa em formigas sem querer, interferindo inconscientemente naquele habitat, mushis também interferem na vida dos animais, vegetais e humanos sem se dar conta desse ato. Então, se duas criaturas opostas existem, o jeito que garantir saúde para ambos é respeitar o espaço pessoal do mesmo, sem feri-lo. E é isto que veremos Ginko fazer. Com sua calma e descontração habitual, ele interage com esses seres de modo gentil e compreensivo.




Mushishi se torna um clássico por nos apresentar uma abordagem suave e poética. Seus poucos diálogos são sempre encaixados no momento exato, carregados de poesia e fundo ético. Porém, quero destacar dois pontos importantes, já citados: trilha sonora e visual.
Trilha sonora: Kazuya Tanaka fez um trabalho excelente, e cantores como Lucy Rose, Masuda Toshio e Ally Kerr foram convidadas para este trabalho. O estilo oriental, folk e rural da música nos trás a sensação de paz, frescor, calmaria e meditação. Por isso não é difícil esvaziar a mente e sentir-se mais leve assim que acaba de assistir um daqueles episódios. Cada efeito sono desta obra, entra em perfeita sintonia com a animação. É algo agradável e profissional.
Para alguns impacientes, Mushishi torna-se massante por ser lento e suave demais, desconsiderando o geral da obra. Realmente não recomendo assisti-lo se você já estiver com sono, mas julga-lo como “um anime mórbido” é uma crueldade incabível. Como eu já disse, o anime entra numa esfera meditativa do zen budismo, então sua intenção é realmente acalmar a mente. Ao contrário do que os dorminhocos pensam não é um anime de ninar.
Visual: A arte dos personagens é incrível simples, e a atenção é totalmente voltada para os mushis e a natureza que o cerca. Os coloristas e cenógrafos fizeram um trabalho impecável, que enche nossos olhos e nos faz suspirar. É lindo! A flora, os pântanos e os seres vivos entram numa harmonia pouco vista em outros animes, e junto ao som
do rio, do canto dos pássaros, do movimento das folhas nas árvores e dos passos calmos e descalços de Ginko, vemos em Mushishi uma arte única e viciante.
















Mushishi também entra no gênero Slice of Life, por não seguir uma rota linear e apresentar-nos sempre a rotina das coisas que Ginko encontra em seu caminho. Seja um mistério de arrepiar até o último fio de cabelo ou um drama de cortar coração, cada episódio encantará você com um enredo novo e paralisante.
É assim que termino minha indicação, partindo de um ponto de vista bastante pessoal. Ainda assim, conversando com outras pessoas que se deliciaram com os mistérios de Mushishi, descobri opiniões semelhantes: todos os que assistem sofrem um impacto. As energias que ele nos transmite nos faz coloca-lo na galeria de “animes obrigatoriamente necessários para a vida”.
Assistam, comentem e se acheguem a nós. Nosso objetivo é tentar abrir sua mente para o desconhecido. É isso, e até a próxima, queridos.